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Observações Cinematográficas

Observações Cinematográficas #1

Imagem do Filme _The Dry_
  • Filmes:
    • Recentes:
      • Shiva Baby: Um dos filmes mais interessantes do ano, esse terror psicológico disfarçado de drama emprega uma caracterização inteligente e boas atuações para potencializar ao máximo sua premissa muito simples: Manter as aparências, sobretudo em uma comunidade fechada, pode ser muito estressante. Ao longo de suas apenas 1h20 de duração, Shiva Baby consegue sustentar no expectador a sensação de stress de sua protagonista e conduzí-lo até um ponto próximo do terror. Trata-se de uma obra-prima do stress à lá Uncut Gems, que curiosamente também compartilha de certa forma a temática judaíca. Nota: 4,5*/5.

      • Love & Debt: Divertido, charmoso, completamente humano e nenhum pouco audacioso, Love & Debt é completamente passageiro, mas se mantém prazeroso por toda sua duração graças às boas atuações - principalmente de Bailee Madison, que, filme após filme, prova estar preparada para ser escalada papéis adultos - e às boas escolhas de direção de Valerie Landsburg, que preservam o filme leve e bem-humorado. Nota: 3,5*/5.

      • The Dry: Desde Mystery Road, o Outback australiano se tornou o melhor cenário para a produção de filmes de suspense. The Dry explora com maestria as paisagens semi-áridas, o ciclo da água e as intrigas das pequenas cidades, juntando boa direção, atuações sólidas e um roteiro polido para entregar um suspense em duas gerações sustentado por uma atmosfera de incerteza e desconfiança que se mantém até as últimas cenas, já se colocando como candidato ao título de um dos melhores suspenses do ano. Nota: 5*/5.

      • The Comeback Trail: Ainda que idosos e longe do ápice, qualquer filme que reuna três ganhadores do Oscar como Tommy Lee Jones, Morgan Freeman e Robert DeNiro merece uma oportunidade. Além disso, em geral, qualquer trinca com alguns dos melhores atores de uma geração, em geral, apresenta star power o suficiente para salvar um filme, por mais vazio que seja, como os próprios Freeman e DeNiro fizeram ao contracenar com o sempre magnético Michael Douglas no divertidíssimo e nostálgico Last Vegas. No entanto, filme após filme, o diretor George Gallo insiste em reforçar seu status como um dos piores diretores de Hollywood, falhando miseravelmente até mesmo a capitalizar sobre o carisma de suas estrelas, entregando mais um filme tecnicamente precário, incoerente, mal acabado e, acima de tudo, sem graça. Na melhor das hipóteses, podemos ver The Comeback Trail como mais um poderoso lembrete de que Robert DeNiro - que, inclusive, entrega a melhor atuação do filme - pelo bem de sua reputação como um dos maiores atores de todos os tempos, deveria se afastar do dinheiro fácil das comédias geriátricas de diretores e roteiros obtusos e se concentrar nos papéis dramáticos, onde, nos próximos meses, terá a oportunidade de mostrar todo seu talento em The Killers of The Flower Moon e Canterbury Glass sob a direção dos geniais Martin Scorsese e David O. Russell, respectivamente. Nota: 1,0*/5.

      • The Woman in the Window: Assim como The Comeback Trail, The Woman in the Window desperdiça o talento de um ótimo elenco sob uma direção errática, dessa vez por parte do bom Joe Wright, que parece incapaz de decidir se quer dirigir um filme de suspense ou de terror psicológico. Partindo de um roteiro confuso e mal articulado, The Woman in the Window acumula decisões erradas e se complica ainda mais pelo excesso de ambição e falta de auto-crítica ao tentar emular visual e tematicamente Rear Window, de Alfred Hitchcock e What Lies Beneath, de Robert Zemeckis, filmes de diretores em um patamar infinitamente superior ao que Joe Wright jamais estará. O resultado final é uma sombra de filme que, praticamente inassistível, no máximo nos faz questionar as escolhas de carreira da ótima Amy Adams que, em busca de seu primeiro Oscar após seis indicações, parece cada vez mais disposta a aceitar qualquer roteiro, por pior que seja, desde que seu papel seja grande e complexo o suficiente para justificar uma indicação. Nota: 1,5*/5.

      • Those Who Wish Me Dead: Prejudicado por um roteiro genérico, recheado de vilões caricatos e sem desenvolvimento, cuja motivação ultimamente não leva à lugar algum, Those Who Wish Me Dead não chega próximo do bom nem em seus melhores momento, mas se torna completamente assistível graças à escolhas interessantes de direção do ótimo Taylor Sheridan, que não se constrange em utilizar, com maestria, todas as ferramentas à sua disposição para maquiar o fraco roteiro, entregando um suspense acelerado, recheado de efeitos especiais e melodramático que confia no carisma da protagonista, Angelina Jolie, o quê, comparado com seu um material fonte falho, absurdo e extremamente limitado, de certa forma pode ser visto como uma vitória. Nota: 3,0*/5.

      • Little Fish: Little Fish é filosófico, inteligente, audacioso e muito bem dirigido, mas é nas atuações onde esse drama disfarçado de ficção científica realmente brilha, sendo sustentado pelas performances graciosas e até mesmo resignadas de Jack O’Connell e da sempre ótima Olivia Cooke - que, com mais um sucesso indie, vai provando ter uma das melhores gestões de carreira de toda Hollywood. Apesar disso, ao preferir fazer questionamentos à explorar sua interessante premissa de ficção científica ou gerar conclusões, Little Fish inevitavelmente perde força, falhando, ao final, a desenvolver totalmente o potencial. Nota: 3,0*/5.

      • Stowaway: Em seu segundo filme, o diretor brasileiro Joe Penna explora o super-populado gênero de quotes naufrágios espaciais. E embora entregue uma boa cinematografia, excelentes atuações, sobretudo da ótima Toni Collette e uma direção bem intencionada, Stowaway até tenta se diferenciar dos demais filmes do gênero criando uma atmosfera de um drama moral, mas o esforço certamente não é suficiente pra compensar o roteiro formulaíco, não conseguindo superar a barreira das ficções científicas mornas. Nota: 2,5*/5.

      • Chaos Walking: Doug Liman é indubitavelmente um dos diretores mais irregulares de Hollywood. Embora não seja possível questionar o talento da mente por trás de Go!, Edge of Tomorrow, American Made até mesmo da influente série The O.C., todos dignos de diretores do primeiro escalão da indústria, Liman também se acostumou a acumular fracassos colassais, muitos deles em filmes de centenas de milhões de dólares, como o fraco, embora icônico, Jumper e o péssimo Mr. & Mrs. Smith. Infelizmente, Chaos Walking se aproxima muito mais do padrão big bucks bomb de Liman, desperdiçando 140 milhões de dólares, um talentosíssimo elenco e uma premissa interessante em um filme cujo único ponto positivo é não parecer barato, entregando não mais do que uma história desinteressante, confusa e pouco ambiciosa que não agrega absolutamente nada de novo ao saturado gênero de ficção científica com jovens adultos. Nota: 1,5*/5

    • Assíncronos:
      • Hunter Prey (2009): Municiado por um design de produção incrível, um roteiro sólido e muita, muita coragem, esse clone de Star Wars, produzido mais 10 anos antes de The Mandalorian, consegue mostrar que o potencial do universo de Star Wars transcende por muito a existência da força. De forma surpreendente, a audácia (e o talento) do Diretor Sandy Collora são recompensados transformando Hunter Prey em um inesperado e surpreendente must see. Nota: 4,0*/5
  • Séries:
    • Recentes:
      • The Kominsky Method (Season 3): Em sua última temporada, The Kominsky Method consegue endereçar a ausência de Norman (Alan Arkin) de forma orgânica e com graciosidade, reafirmando o talento de Chuck Lorre que, com muita sensibilidade, explora com naturalidade um terreno bem mais dramático do que o visitado anteriormente em suas obras mais bem sucedidas como The Big Bang Theory e Two and a Half Man. No entanto, é na performance estelar do sempre genial Michael Douglas, que parece ter encontrado em Sandy Kominsky o personagem mais confortável de sua carreira, onde The Kominsky Method realmente brilha, nos presenteando com personagens veteranos desenvolvidos, protagonistas e psicologicamente complexos, o quê certamente é um dos maiores legados da era do streaming. Nota: 5*/5

      • Master of None (Season 3): Por anos, Master of None foi minha série favorita graças à sua sensibilidade para abordar temas modernos, facilitada pela intimidade dos personagens. Em sua terceira temporada, no entanto, com a trilha de história de Dev bloqueada, Aziz Ansari erra ao creditar à intimidade, e não à abordagem sensível de temáticas moderna, o de sucesso da série. É inegável que a temporada, efetivamente um spin-off focado em Denise e seu novo relacionamento, é interessante - até mesmo porque Denise é o personagem mais interessante e complexo entre os amigos de Dev -, intimista e até mesmo artística em um certo nível. No entanto, por mais que a terceira temporada seja bem executada, pelo conceito da série, Master of None não consegue superar em um retrato de intimidade séries focadas primariamente em serem intimistas, como a ótima Normal People e até mesmo a já concluída comédia romântica de Judd Appatow Love, sendo impossível não imaginar que um spin-off focado em Brian ou em Arnold conservando a sensibilidade e a temática - como o próprio Alan Yang, co-criador e produtor de Master of None, fizera em sua série sobre imigração, a fantástica Little America, da AppleTV+ - teria sido muito mais interessante e fiel à premissa que fez da série tão cativante. Nota: 2,5*/5

      • Good Girls (Season 4): Uma vez que nos acostumamos com a premissa de Donas-de-Casa-envolvidas-com-Crime-Organizado, Good Girls se torna, acima de tudo, uma série tensa, interessante, divertida e, acima de tudo, consistente se mantendo praticamente indiferente ao avanço das temporadas, contrastando com a esperada queda de qualidade com o passar do tempo. Tudo isso graças à química incrível das três protagonistas, Christina Hendricks, a eterna Joan de Mad Men, Mae Whitman, a Ann de Arrested Development, completamente fora da zona de conforto, e a hilária Retta, que combinadas formam um dos melhores e mais naturais trios de comédia da televisão. Nota: 3,0*/5

      • Mythic Quest (Season 2): Ao estabelecer uma temática clara, dinâmica de poder, como o tema central da temporada, Mythic Quest tomou liberdade para se tornar ainda mais absurda, imersiva, non-sense do que nunca sem a necessidade de abdicar do charme ou do desenvolvimento emocional dos personagens, aspectos centrais da trama. Mais uma ótima decisão do Always Funny criador de It’s Always Sunny in Philadelphia, Rob McElhenney, que além de criar e produzir a série com maestria (e apresentando uma ótima postura com relação à Pandemia de COVID-19), ainda interpreta o protagonista Ian, cuja dinâmica com Charlotte Nicdao, a Poppy Li, só não supera a hilária relação entre Brad, interpretado Danny Pudi, o Abed de Community, e David, o sempre ótimo David Hornsby, como ponto alto da série. Nota: 5*/5

      • Mare of Easttown (Limitada): Combinando uma história bem-trabalhada, que funciona tanto como suspense quanto como drama, uma ambientação brilhante e um nível de talento que só a HBO consegue trazer para a televisão, Mare of Easttown se aproveita do talento do diretor Craig Zobel, mais uma vez muito sólido, e das atuações estelares da ganhadora do Oscar Kate Winslet - que, após uma década desperdiçada com performances em filmes fracos, parece ter começado a dar volta por cima, entregando, em Mare, uma das melhores atuações de sua carreira - e da sempre subestimada Angourie Rice - que segue caminhando à passos largos para se firmar como a melhor atriz de sua geração, embora inexplicavelmente ainda não tenha recebido oportunidades de grandes papeis em ótimos filmes -, para entregar um trama tensa, intrigante, inteligente e, no final das contas, imperdível. Nota: 5*/5

    • Assíncronos:
      • Wayne (2019): Embora essa pouco conhecida e ambiciosa série do YouTube Premium talvez se pareça excessivamente com uma versão americanizada de The End of the F***ing World com algumas pitadas gore de Kill Bill, mas por ao conciliar uma ótima edição com um roteiro bem-trabalhado e cativante, capaz de imprimir profundidade na medida certa sem comprometer a velocidade da série, uma química incontestável entre os protagonistas e uma capacidade única de ir de ação-frenética-ultra-acelerada à lá John Wick para drama-adolescente-com-personagens-inseguros-ou-desajustados como The Way, Way Back, Wayne é uma das melhores séries de que você nunca ouviu falar, reafirmando o talento de conciliar ação e comédia já demonstrado por sua dupla de produtores Paul Wernick e Rhett Reese em suas obras de maior sucesso, como Zombieland e Deadpool. Nota: 5*/5